Como alguém bem disse, ser corajoso não equivale a não ter medo, mas a saber superar o medo a fim de não ser por ele detido. Considero a coragem uma das maiores virtudes humanas. Sem ela, praticamente, nada se faz. Nada que valha.
A coragem é um ímpeto, uma força que faz avançar, colocando na sombra as dúvidas. É também a certeza da necessidade de um gesto, um ato ou uma palavra independentemente de suas consequências. Coragem é enfrentar o que se sabe ser inevitável. Muitas vezes, é preciso coragem até para fazer o bem, assim como é preciso de coragem para pôr em prática ideias, projetos, desejos e sonhos. De que adianta pensar corretamente se o pensamento fica preso no crânio porque falta a coragem para torná-lo realidade? E, igualmente, o que vale um sentimento maravilhoso que permanece enterrado no coração por falta de peito para encará-lo e vivencia-lo? De nada, absolutamente nada.
É pela coragem que tomamos atitudes, rompemos o que precisa ser quebrado, e dizemos sim ou não sem mais demoras. Muitas vidas são passadas atravancadas em terrenos psicológicos lamacentos e pegajosos por causa da falta de coragem para fazer o que se sabe precisa ser feito.
Há pessoas que gostam de olhar para outras, e, admiradas, exclamar, "Como você é corajosa!". Como se isso fosse um dote que a natureza deu de presente, e não uma conquista suada, ao alcance de todos.
Ter coragem não exclui passar sufoco, ficar angustiados, ter dúvidas e penar. Para ter coragem é preciso ter a dignidade de sacudir a poeira do comodismo e tomar uma atitude. Todo movimento que chacoalha o que está parado vai trazer "problemas". A coragem sempre sacode, se não fosse assim não seria preciso de coragem para fazer determinadas coisas. A coragem obriga a enfrentar nossos pontos fracos. Por este motivo, há quem opte por "manter as coisas como estão"... e continuar vivendo à luz da covardia.
Como um sujeito gordo, preguiços, ruminando salgadinhos ou bebendo cerveja na frente de uma TV eternamente ligada, o covarde acumula energias inutilmente, ora via oral, ora pelo pensamento, ora pelos sonhos. Ingurgita comida assim como alimenta fantasias, mas, como não usa o que introduziu em si mesmo, só pode ampliar sua existência no sentido material e horizontal: engordando! Há obesos no corpo e há obesos no pensamento. Estes pensam muito, nutrem projetos na cabeça, sonhos fantásticos, planos detalhados... Mas nada na prática acontece. A realidade permanece nos trilhos de sempre. Cansados e lentos sob o peso de tanto pensar e sonhar, estes indivíduos têm uma particular atração por criticar quem ousa agir, ora expondo seus raciocínios "lógicos e sensatos", ora semeando dúvidas insidiosas que atacam a auto-estima alheia.
A verdade é que o covarde foge da vida e de si mesmo. Aparta-se da responsabilidade que seu sentimento, valores e desejos lhe impõe. Quando não ter coragem de romper uma relação que precisa ser deixada para trás, ou quando se ama alguém e não se tem a coragem de assumir o próprio sentimento e/ou de agir de forma congruente, além de covarde se é irresponsável, porque se está fazendo pelo menos duas pessoas infelizes.
Enquanto o covarde tem baixa auto-estima, o corajoso não pensa demasiadamente em si. Ele enxerga além. Se parasse para considerar todos os pequenos interesses de seu próprio ego, o corajoso perderia o elán do moto progressivo e naufragaria rapidamente. Ter coragem implica, de alguma forma, em esquecer-se de si. Por isso, diferencia-se do exibido que comete atos ousados para se mostrar. O corajoso não é nem tolo nem egocêntrico.
A coragem está na base da dignidade humana, da consistência moral de uma pessoa e de sua coerência consigo mesma. Pela coragem, valores, postura e ação são aglutinados num todo unitário à serviço da personalidade individual. Para ser si própria, uma pessoa tem que ter coragem. Num mundo massificado, mergulhado em estereótipos e preconceitos, emergir para fora da maré requer simples e nobre coragem. Da mesma forma, num horizonte psicológico lotado de falsos julgamentos, dúvidas, inseguranças e visão borrada, é pela coragem de seguir as intuições certeiras que nascem de dentro que uma pessoa demonstra quem ela realmente é.
Adriana Tanese Nogueira -
Psicologia Dialética.